terça-feira, novembro 23, 2010

Estive pensando...



sábado, novembro 20, 2010

Vozes mortas

Jonas Briga de Bar era um daqueles que fazem o que gostam, às vezes mais por necessidade. Digamos que você gosta de bolo. Você gosta tanto de bolo que na maior parte das vezes não tem que te faça, então dá que você é quem tem que ir lá se dar o trabalho. E o Jonas era homem de poucas palavras e vida descomplicada. Era muito bem compreendido onde quer que passava. Muito decidido, ele sabia o que queria, e se não conseguisse havia bem é que chover no dia.

Certa feita peguei o caminho de casa que me deu prum boteco e lá o Jonas estava. Me estranhei com a cena em que ele de pé batia boca com um sujeito do amarronzado e que mexia muito a mão pro lado. Daí por mim a desculpa tava dada quando entrei no boteco, pedi minha pinga e chamei na bicada. Porque ouvir a fala do Jonas Briga de Bar era que nem chover no meu aniversário: a gente sabia o que ia acontecer e ainda sempre se surpreendia quando caía a pancada. E já tava até demorando quando a palavra era Flamengo e o amarronzado insistia em chamar de Vasco e levantou da cadeira pra destilar a boca afora, até que o mundo resolveu botar a sua ordem e acabar logo com esse enrola:

- Você tá completamente errado! - Era a voz do Jonas. Agora chegou a hora.
- Ah, é? E por quê?
- Porque você é um filho da puta! - E vamo simbora!

E aí o Jonas voava no pescoço do coitad'o cara enquanto a pingaiada cantava o som bonito de um pouquinho da primeira vogal e muito mais da segunda. Depois o de sempre era que essa hora acabava e eu ia pra lá em casa contar pra preta e a gente dar risada.

Noutro dia eu passei no boteco e fui sentar com ele na bancada. E aí eu falei que lhe achava uma figura muito engraçada e ele que ia me encher de porrada, então eu fui embora e nunca falei mais nada. Êêsse Jonas era figura danada!

E triste mesmo é contar que num dia a coisa acaba e a gente tem que se amargar. Diz que num dia ele se meteu com um cara-navalha que lhe passou o fio e de filho da puta botou fim na história que era nossa pra gente contar. Era o fim do Jonas Briga de Bar.

Por Rufino Fernandes